OBESIDADE
E HIPERCORTISOLISMO
A partir de semelhanças
clínicas, metabólicas e cardiovasculares entre hipercortisolismo e a obesidade
com predomínio abdominal, sugeriu-se um papel importante dos glicocorticoides
nesse fenótipo de obesidade. Algumas anormalidades do eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) e do metabolismo periférico do cortisol têm
sido descritas em indivíduos obesos ou em portadores de síndrome metabólica. O
excesso de tecido adiposo, particularmente visceral, está associado à
resistência insulínica, hiperglicemia, dislipidemia, hipertensão e estados
pró-trombóticos e pró-inflamatórios, ou seja, à síndrome metabólica, que se
assemelha em muito às manifestações da síndrome de Cushing.
A obesidade é considerada um estado de pseudo-Cushing, pela presença de fenótipo clínico similar ao da SC verdadeira, associado a alguma evidência de hipercortisolismo. É importante excluir o hipercortisolismo que pode acontecer na obesidade da SC que pode estar presente em obesos, agravando ainda mais as comorbidades da obesidade.
FISIOPATOLOGIA DO HIPERCORTISOLISMO NA OBESIDADE
Existem diversas evidências na literatura sobre a hiperativação do eixo HHA em
indivíduos obesos, principalmente naqueles com distribuição central de gordura.
Fisiologicamente, observa-se uma resposta aumentada do cortisol ao estímulo com
hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), ao hormônio liberador de corticotrofina
(CRH) e à alimentação. Há também uma maior frequência de liberação de pulsos de
ACTH, com menor amplitude de pulso, mas com níveis basais de ACTH normais.
Apesar
da hiperatividade do eixo HHA na obesidade, a maior parte dos estudos sugere
que as concentrações de cortisol estejam normais, em decorrência do aumento da
metabolização periférica do cortisol. Esses achados são compatíveis com a
quantidade aumentada de compostos urinários oriundos da metabolização do
cortisol, bem como o aumento da atividade de enzimas envolvidas na
metabolização, como a 11-beta-hidroxiesteroide desidrogenase (11-beta-HSD) tipo
2. Essa enzima é responsável pela conversão de cortisol (forma ativa) em
cortisona (forma inativa). Uma forma de se avaliar o clearance metabólico do cortisol é através da
dosagem de cortisol livre urinário (CLU), que pode estar normal ou levemente
aumentado, mas raramente maior que quatro vezes o valor de referência.
O ritmo circadiano do cortisol é mantido
em obesos. No hipercortisolismo associado à obesidade, existe uma distribuição
predominantemente abdominal de gordura, especialmente em condições que cursam
com síndrome metabólica, cujas características se assemelham às manifestações
da SC. Ocorre um aumento da atividade glicocorticoide na gordura abdominal pela
maior atividade local da 11-beta-HSD tipo 1, que reativa o cortisol a partir do
composto inativo cortisona, acarretando maior geração de glicocorticoide local
(independentemente dos níveis sistêmicos), e consequentemente maior ativação do
seu receptor, promovendo mais obesidade e criando um ciclo vicioso.
É importante ressaltar que a perda de
peso normaliza os níveis de cortisol e melhora a resistência insulínica.
Enquanto na síndrome metabólica, a perda de peso reverte o hipercortisolismo e
as alterações fenotípicas, tais melhorias só acontecem na SC quando o tumor é
removido. Estudos experimentais com inibidores da 11-beta-HSD tipo 1 confirmam
o papel dessa enzima na patogênese da síndrome metabólica e pode ser uma nova
terapia em pacientes com síndrome metabólica e obesidade.
TESTES DIAGNÓSTICOS PADRÃO PARA SC E POSSÍVEIS FATORES DE
CONFUNDIMENTO
Segundo o consenso da Endocrine Society
de 2008, deve-se investigar a SC nos seguintes grupos: 1) indivíduos com
achados incomuns para a idade (como hipertensão e osteoporose); 2) indivíduos
com achados evolutivamente progressivos mais específicos de SC; 3) crianças com
redução da velocidade de crescimento e aumento do peso; 4) indivíduos com
incidentaloma adrenal compatível com adenoma, como mostra o quadro abaixo:
Outro ponto importante a ser considerado
é a possível influência que certos medicamentos e situações clínicas podem
desempenhar sobre os testes de rastreio de hipercortisolismo (Quadro 3). Dentre
eles, citamos o uso de anticoncepcionais orais que, ao aumentar os níveis da
CBG, podem causar resultados falsos positivos (27% no estudo de Baid e
colaboradores) nos testes que usam os níveis séricos do cortisol como
parâmetro, deve-se, portanto, suspender o uso desses anticoncepcionais, no
mínimo seis semanas antes do teste, assim como o uso de medicamentos que podem
aumentar ou reduzir o metabolismo da dexametasona.
http://revista.hupe.uerj.br/detalhe_artigo.asp?id=460
Faria CDC, Castro RB, Longui CA. Obesidade e Eixo
Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HHA). In: Mancini M, Geloneze B, Salles JEN, Lima JG, Carra M, editores. Tratado
de Obesidade. São Paulo: Guanabara Koogan; 2010. p. 110-6.
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organ. J Clin Endocrinol Metab. 2004;89(6):2548-56. http://dx.doi.org/10.1210/jc.2004-0395



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ResponderExcluirDiagnosticar a sindrome de Cushing o quanto antes é de suma importancia, sendo que o tratamento deve ser iniciado, melhorando a qualidade de vida do sujeito em questão, a atividade física por exemplo, pode servir de tratamento de melhora do quadro da síndrome, como já mencionei em outros comentários.
ResponderExcluirA escolha do método para diagnosticar a doença é um fator importantíssimo para a menor chance de ocorrencia de falsos positivos. Um individuo pode ser obeso e não ter sindrome de Cushing, não sendo necessária a aplicação de tratamentos especificos a sindrome de cushing a ele.
Para se confirmar com certeza que uma pessoa possui Cushing é necessário que se faça dois exames diferentes, isso, segundo o artigo "Obesidade e Hipercortisolimo: Armadilhas no Diagnóstico" que apresenta algumas possibilidades de melhor diagnosticar a sindrome, diferenciando-a da obesidade.
Muito interessante o post e o assunto, que vem sendo abordado de forma precisa. Pois bem, o hipercortisolismo ou Síndrome de Cushing, é o resultado da produção excessiva de hormônios pela região cortical da glândula supra-renal . A síndrome de Cushing pode evoluir com diabetes, pressão alta, osteoporose entre outras. O surgimento de infecções oportunistas pode pôr em risco à vida do paciente, porém não há como prevenir as causas endógenas da doença, no entanto, a utilização abusiva e sem acompanhamento médico das medicações a base de corticóide pode e deve ser evitada.
ResponderExcluirParabéns ao Blog.
A síndrome de Cushing é rara, mas tem uma maior evidencia em populações especificas. Os exames diagnósticos mesmo com uma realização bem feita, Para que se obtenha a confirmação da síndrome é indicado a que se faça mais de um exame pois eles podem apresentar resultados falso positivos nos pacientes obesos, pela incidência de individualidades encontradas nesta população clínica. O correto diagnóstico deve ser feito o quanto antes a partir da suspeita clínica, pois pode ser subdiagnosticado na população obesa. Para que possa se realizar o tratamento,que melhora a qualidade de vida, reduz o peso corporal e a mortalidade cardiovascular.
ResponderExcluirGrupo 5:
ResponderExcluirCom a obesidade o nível e a função dos hormônios são modificados.O hipercortisolismo é o resultado da produção excessiva de hormônios pela região cortical da glândula supra-renal, o hipercortisolismo funcional que participa da obesidade abdominal podendo ter efeito sobre a síntese metabólica, das quais características são muito parecidas as manifestações clínicas da síndrome de cushing, devido ao aumento da atividade glicocorticoide da gordura abdominal por causa da maior ativação da 11-beta-hidroxiesteroide, que catalisa a interconversão de cortisona para cortisol nas celular alvo. Dessa forma é necessário avaliação criteriosa para evitar confundir os sintomas apresentados pela síndrome com sintomas de outras doenças. Ótima postagem!
A Síndrome de Cushing é classificada em: causas ACTH-independentes e causas ACTH-dependentes.
ResponderExcluirA Síndrome de Cushing ACTH-independente decorre da secreção autônoma e exagerada de cortisol pelas adrenais. Frente a níveis elevados do cortisol, o corticotrofo hipofisário sofre retroalimentação negativa, de maneira que os níveis de ACTH são baixos e não se elevam após estímulo com CRH.
A Síndrome de Cushing ACTH-independente pode ser causada por tumores adrenais, são os mais comuns, e pelas hiperplasias nodulares, mais raros.