sábado, 2 de maio de 2015

OBESIDADE E HIPERCORTISOLISMO



OBESIDADE E HIPERCORTISOLISMO

A partir de semelhanças clínicas, metabólicas e cardiovasculares entre hipercortisolismo e a obesidade com predomínio abdominal, sugeriu-se um papel importante dos glicocorticoides nesse fenótipo de obesidade. Algumas anormalidades do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) e do metabolismo periférico do cortisol têm sido descritas em indivíduos obesos ou em portadores de síndrome metabólica. O excesso de tecido adiposo, particularmente visceral, está associado à resistência insulínica, hiperglicemia, dislipidemia, hipertensão e estados pró-trombóticos e pró-inflamatórios, ou seja, à síndrome metabólica, que se assemelha em muito às manifestações da síndrome de Cushing.

A obesidade é considerada um estado de pseudo-Cushing, pela presença de fenótipo clínico similar ao da SC verdadeira, associado a alguma evidência de hipercortisolismo. É importante excluir o hipercortisolismo que pode acontecer na obesidade da SC que pode estar presente em obesos, agravando ainda mais as comorbidades da obesidade.

FISIOPATOLOGIA DO HIPERCORTISOLISMO NA OBESIDADE 

Existem diversas evidências na literatura sobre a hiperativação do eixo HHA em indivíduos obesos, principalmente naqueles com distribuição central de gordura. Fisiologicamente, observa-se uma resposta aumentada do cortisol ao estímulo com hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), ao hormônio liberador de corticotrofina (CRH) e à alimentação. Há também uma maior frequência de liberação de pulsos de ACTH, com menor amplitude de pulso, mas com níveis basais de ACTH normais.
Apesar da hiperatividade do eixo HHA na obesidade, a maior parte dos estudos sugere que as concentrações de cortisol estejam normais, em decorrência do aumento da metabolização periférica do cortisol. Esses achados são compatíveis com a quantidade aumentada de compostos urinários oriundos da metabolização do cortisol, bem como o aumento da atividade de enzimas envolvidas na metabolização, como a 11-beta-hidroxiesteroide desidrogenase (11-beta-HSD) tipo 2. Essa enzima é responsável pela conversão de cortisol (forma ativa) em cortisona (forma inativa). Uma forma de se avaliar o clearance metabólico do cortisol é através da dosagem de cortisol livre urinário (CLU), que pode estar normal ou levemente aumentado, mas raramente maior que quatro vezes o valor de referência.
O ritmo circadiano do cortisol é mantido em obesos. No hipercortisolismo associado à obesidade, existe uma distribuição predominantemente abdominal de gordura, especialmente em condições que cursam com síndrome metabólica, cujas características se assemelham às manifestações da SC. Ocorre um aumento da atividade glicocorticoide na gordura abdominal pela maior atividade local da 11-beta-HSD tipo 1, que reativa o cortisol a partir do composto inativo cortisona, acarretando maior geração de glicocorticoide local (independentemente dos níveis sistêmicos), e consequentemente maior ativação do seu receptor, promovendo mais obesidade e criando um ciclo vicioso.
É importante ressaltar que a perda de peso normaliza os níveis de cortisol e melhora a resistência insulínica. Enquanto na síndrome metabólica, a perda de peso reverte o hipercortisolismo e as alterações fenotípicas, tais melhorias só acontecem na SC quando o tumor é removido. Estudos experimentais com inibidores da 11-beta-HSD tipo 1 confirmam o papel dessa enzima na patogênese da síndrome metabólica e pode ser uma nova terapia em pacientes com síndrome metabólica e obesidade.

TESTES DIAGNÓSTICOS PADRÃO PARA SC E POSSÍVEIS FATORES DE CONFUNDIMENTO

Segundo o consenso da Endocrine Society de 2008, deve-se investigar a SC nos seguintes grupos: 1) indivíduos com achados incomuns para a idade (como hipertensão e osteoporose); 2) indivíduos com achados evolutivamente progressivos mais específicos de SC; 3) crianças com redução da velocidade de crescimento e aumento do peso; 4) indivíduos com incidentaloma adrenal compatível com adenoma, como mostra o quadro abaixo:


Outro ponto importante a ser considerado é a possível influência que certos medicamentos e situações clínicas podem desempenhar sobre os testes de rastreio de hipercortisolismo (Quadro 3). Dentre eles, citamos o uso de anticoncepcionais orais que, ao aumentar os níveis da CBG, podem causar resultados falsos positivos (27% no estudo de Baid e colaboradores) nos testes que usam os níveis séricos do cortisol como parâmetro, deve-se, portanto, suspender o uso desses anticoncepcionais, no mínimo seis semanas antes do teste, assim como o uso de medicamentos que podem aumentar ou reduzir o metabolismo da dexametasona.


http://revista.hupe.uerj.br/detalhe_artigo.asp?id=460

Faria CDC, Castro RB, Longui CA. Obesidade e Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HHA). In: Mancini M, Geloneze B, Salles JEN, Lima JG, Carra M, editores. Tratado de Obesidade. São Paulo: Guanabara Koogan; 2010. p. 110-6.

Kershaw EE, Flier JS. Adipose tissue as an endocrine organ. J Clin Endocrinol Metab. 2004;89(6):2548-56. http://dx.doi.org/10.1210/jc.2004-0395
 

6 comentários:

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  2. Diagnosticar a sindrome de Cushing o quanto antes é de suma importancia, sendo que o tratamento deve ser iniciado, melhorando a qualidade de vida do sujeito em questão, a atividade física por exemplo, pode servir de tratamento de melhora do quadro da síndrome, como já mencionei em outros comentários.
    A escolha do método para diagnosticar a doença é um fator importantíssimo para a menor chance de ocorrencia de falsos positivos. Um individuo pode ser obeso e não ter sindrome de Cushing, não sendo necessária a aplicação de tratamentos especificos a sindrome de cushing a ele.
    Para se confirmar com certeza que uma pessoa possui Cushing é necessário que se faça dois exames diferentes, isso, segundo o artigo "Obesidade e Hipercortisolimo: Armadilhas no Diagnóstico" que apresenta algumas possibilidades de melhor diagnosticar a sindrome, diferenciando-a da obesidade.

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  3. Muito interessante o post e o assunto, que vem sendo abordado de forma precisa. Pois bem, o hipercortisolismo ou Síndrome de Cushing, é o resultado da produção excessiva de hormônios pela região cortical da glândula supra-renal . A síndrome de Cushing pode evoluir com diabetes, pressão alta, osteoporose entre outras. O surgimento de infecções oportunistas pode pôr em risco à vida do paciente, porém não há como prevenir as causas endógenas da doença, no entanto, a utilização abusiva e sem acompanhamento médico das medicações a base de corticóide pode e deve ser evitada.
    Parabéns ao Blog.

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  4. A síndrome de Cushing é rara, mas tem uma maior evidencia em populações especificas. Os exames diagnósticos mesmo com uma realização bem feita, Para que se obtenha a confirmação da síndrome é indicado a que se faça mais de um exame pois eles podem apresentar resultados falso positivos nos pacientes obesos, pela incidência de individualidades encontradas nesta população clínica. O correto diagnóstico deve ser feito o quanto antes a partir da suspeita clínica, pois pode ser subdiagnosticado na população obesa. Para que possa se realizar o tratamento,que melhora a qualidade de vida, reduz o peso corporal e a mortalidade cardiovascular.

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  5. Grupo 5:
    Com a obesidade o nível e a função dos hormônios são modificados.O hipercortisolismo é o resultado da produção excessiva de hormônios pela região cortical da glândula supra-renal, o hipercortisolismo funcional que participa da obesidade abdominal podendo ter efeito sobre a síntese metabólica, das quais características são muito parecidas as manifestações clínicas da síndrome de cushing, devido ao aumento da atividade glicocorticoide da gordura abdominal por causa da maior ativação da 11-beta-hidroxiesteroide, que catalisa a interconversão de cortisona para cortisol nas celular alvo. Dessa forma é necessário avaliação criteriosa para evitar confundir os sintomas apresentados pela síndrome com sintomas de outras doenças. Ótima postagem!

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  6.  A Síndrome de Cushing é classificada em: causas ACTH-independentes e causas ACTH-dependentes.
    A Síndrome de Cushing ACTH-independente decorre da secreção autônoma e exagerada de cortisol pelas adrenais. Frente a níveis elevados do cortisol, o corticotrofo hipofisário sofre retroalimentação negativa, de maneira que os níveis de ACTH são baixos e não se elevam após estímulo com CRH.
    A Síndrome de Cushing ACTH-independente pode ser causada por tumores adrenais, são os mais comuns, e pelas hiperplasias nodulares, mais raros.

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